08/02/2019

A CASA É O CORPO





    


A Av. N. Sra. do Sion, com a casa do protagonista, não dá as caras no “Manjar”. Se a casa falasse, com a própria alma e as cores dos donos e das pessoas da família, nomes e idades, incluindo visitantes e correliginários, surgiria algo atemporal e simbólico. A ver com a experiência de quem mora e passa na delimitação geográfica da entrada para a Pedra Grande. A obra está embebida da cadência efusiva de espírito doméstico preservacionista. Há aí também um espiritualismo que não aceita a matéria como matéria. Algo quântico, pouco definível. Mantém-se encapsulado o que é utilitário, funcional e tende a descambar para o individualismo violento dos tempos. A avenida era de terra, hoje de asfalto, via crúcis de chagas pela velocidade progressista. Melancolia e expansividade. Morte e atropelamento de pessoas e animais (esquilos, gatos, cavalos). Residências novas, mentes e cubos lisos de concreto aparente, com câmeras registradoras no entorno. A mais próxima da casa do “Manjar”, logo ao terminar, gente morando, foi assaltada. Além do “Manjar”, outros livros largam na espera de lançamentos. A demora, sina do autor, pela pegada literária. Temas a serem trabalhados de forma ficcional, poética ou como documentos para a ciência social. A noção de identidade construída ou não. Ser um pós-modernista avant La lettre – dúvida do autor. Nada de aprofundar elementos subjetivos como gênero, classe e sexualidade. Hoje, isso parece indissociável. Ir na contramão sem  pensar essas questões no lugar comum da clivagem do certo e do errado. A produção do autor não se resume a denunciar mazelas. No crisol das artes muitas temperadas sem faltar workshops de sensibilização e sugestões pedagógicas. Aqui a supremacia das vivências face ao bla,bla,blá cognitivo. O “Manjar” embala o que marca o tatear no mundo complexo do conhecimento. A educação e a política, hoje, se encontram numa berlinda. Coisa de uma república e democracia quase esfaceladas. Momento da radicalização direita-esquerda, em luta materializada. Prisões cada vez mais atulhadas de gente, crime organizado dentro e fora das grades, centração política em dinheiro e bens para parlamentares e empresários. A preocupação maior do autor é com a vivência no território da família e dos empregos, o sonho alimentado pelos livros e filmes, as exigências da anima no sexo aventureiro e na sensualidade das ruas, das classes e das escolas. Daí sempre o predomínio dos conceitos vivenciados. O teatro e suas peculiaridades dramáticas (ação e assunto). Em Filosofia sempre a busca de uma práxis. A contracultura em ebulição cognitiva, motor-agente de descobertas. O papel da religiosidade em que mortos falam e vivos encenam. Desconstruir estereótipos e condicionamentos vira meta existencial. As coisas, mais importantes do que as palavras, estas servindo para nomear o dito. Vivências vivem em camadas a serem desbravadas.   


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03/12/2018

O FUTURO É HOJE


Ter papel ativo em nossa história política. Com as redes sociais todos somos seres públicos.
O protagonismo está no exercício da cidadania, dando a  palavra sem fazer o oposto, não lavar as mãos com mau-caratismo...
Sempre apoiar pessoas e instituições que defendem direitos humanos. Quem tem direito tem deveres. Na dúvida, recorrer ao iluminismo (ideias de liberdade política e econômica).
Melhor do que atacar, diálogos esclarecedores em situações polarizadas. Reformas não bastam quando falta o mais amplo debate entre as forças envolvidas.
Saúde, Educação, Política e Tributação – temas pertinentes ao lado de tantos outros.
Servir à Constituição com impessoalidade. Interesses em jogo podem subverter graças a acessos privilegiados.
O cânone do jornalismo profissional deve ser respeitado. Cabe a ele descobrir, perceber, conhecer, esquadrinhar, sondar. “O bom político escrutina a alma do povo.”
A liberdade de expressão e de pensamento ajudam a manter sob controle tanto o poder do Estado como o de grupos circunstanciais.
Injustiças contra o indivíduo podem resultar de opiniões e sentimentos opressivos se não mais. No longo prazo, as melhores ideias triunfam sobre as piores.
A responsabilidade por fake news chama a atenção para a boçalidade de quem se utiliza de mentiras. É só se perceber como vítima nesse processo.
Não se informar nem se instruir com leituras e debates é atitude acomodada, ingênua ou de má intenção. Triste quando não se amplia o leque de ideias e não se zela pelos fatos.
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17/11/2018

A HORA “D”


Madrugada. Quinze para as quatro horas. Palavras mais simpáticas do que números. O desembarque das tropas chefiadas por Maria. Uma primeira vitória encaminhada. Antes, fase de tensões fisiológicas. Um país, cujo organismo foi travado. Soluções aparentes não tocaram na raiz dos males. Tentativas lícitas e ilícitas, subjetivas e objetivas, não deram certo. Ou, a crise de grandes dimensões acaba por contribuir no aclaramento da consciência para a doença sistêmica. Caos é a palavra a ser ouvida. Adormecer e sonhar. Maria pergunta: “E, você, não tem escrito?” Blogs esperando, mais de 14 mil visualizações. Respondo: “Falta de tesão”... O que atribuo ao capítulo recente das eleições. Um presidente populista autoritário vai ser empossado em janeiro próximo. Mas já começa a dar as cartas. O perigo de uma prisão de ventre irremovível está no retrocesso. A destacar: meio ambiente, segurança pública, agenda cultural. A bancada do boi, da bala e do Velho Testamento num Congresso de rentistas. Artefatos espoucam no sanitário da casa, ensaios a prenunciar tanques e canhões. Não se conhece direito nem as estatísticas de desemprego. O abdome intestinal não está bem. Vive-se na dependência de acordos orgânicos. Cérebro e intestino irmanados. Sem bravatas linha-dura, não militarizar o organismo. Ele não é uma pirâmide a se afogar em atoleiro. Estado Novo  e AI-5 que fiquem nas dobras do passado. Hoje, véspera da proclamação da República, lá pelas 21h, introduzo, com alguma dificuldade, no próprio reto, um remédio à base de ácido esteárico, hidróxido de sódio e cloreto de sódio. Às três horas e quarenta e cinco minutos, depois de paciente horizontalidade na cama, adormeci acreditando no fiel agente curador. O sono veio naturalmente, antes eu imaginando se o efeito corresponderia ao esperado. Não havia certeza com relação ao momento do desembarque. Vem a manhã da proclamação da República. Levanto com boa expectativa esperando que o eterno sol me ilumine. Notável tiroteio com balas  projetadas no bungee-jumping (ioiô intestinal). Com elas os meus preconceitos e o ardente desejo para que o presidente e sua equipe, cuja missão é limpar o cólon da nação, cumpram o próprio papel. Nada como finalizar este relato, às 5h24, de 15 de novembro de 2018. Peço que o amor nos rodeie, e que a luz interior guie nossos passos. Dia glorioso, aniversário de uma República a ser preservada assim como a democracia, desde os idos do fim da ditadura militar (1985).

24/10/2018

O SONHO DE BOZZO




Estado de angústia. O jeito é adormecer. Foi quando ocorreu o sonho de Bozzo. Hoje ele vive sob uma chuva de flores. A consagração popular dentro de um caos político de proporções assustadoras. No sonho, trevas. A elas, mistura de íntima inquietação, ao lado a figura de Aldo, olhar sereno, consolo para as almas crentes. 

- Aldo – exclamou Bozzo, entre ansioso e atormentado –, não acredito que a gente deva se curvar sob o jugo do Sistema político e social.

Bozzo enumera, ao longo da conversa, o que ele chama de “assalto” ao instituído pela tradição e que preserva a educação das famílias, a formação escolar, as regras de sobrevivência contra o crime, a sexualidade, o poder do Estado, como lidar com criminosos e as minorias depravadas e submissas em seus hábitos e costumes.
Não faltaram críticas aos discursos sobre proteção ambiental e à saúde dos cidadãos – estúpidos cuidados e restrições. O chamado golpe de 64 foi um movimento restaurador que praticou a tortura sim. Mas com toda a dignidade... O problema dela foi parar aí, não matar os criminosos. Teve outras complacências: com a homofobia, o sexismo e o racismo.  

- Bozzo. Como encarar tudo isso, na sua pressa exigida, a não ser guerreando com o mundo?
- É o que penso, seja o caso. As oportunidades estão aí.
Aldo insiste:
- Até que ponto se agrediria a democracia, os direitos humanos e as liberdades individuais? E o lado religioso e evangélico...
- Sou pelo “olho por olho, dente por dente” – o que da Bíblia mais tem a ver com a realidade.

Bozzo é pelo poder das armas. Bandido deve ser bandido morto; quem produz mais deve merecer o melhor trato; quem desvirtua o zelo pela tradição é inimigo.

- E o Novo Testamento com as lições de Jesus? Têm a ver com o amor entre as pessoas e o respeito ao meio ambiente.
- Isso produz efeitos nas pessoas mais ignorantes e desclassificadas. Ora, as reivindicações do nosso povo exigem um condutor enérgico e altivo. Principalmente numa situação tão delicada como as de hoje.

Aldo, olhar sereno, retruca:
- Sempre houve “salvadores da pátria” até com atitudes revolucionárias. O Messias, porém, veio efetuar a verdadeira revolução nos corações e nas almas.

Bozzo sorrindo algo irônico acrescenta:
- Poderemos esperar renovações, sem o concurso dos homens poderosos?
- E quem haverá mais poderoso do que Deus?
Face à invocação de Aldo, Bozzo morde os lábios e prossegue:
- Não concordo com os princípios de inação e creio que o Evangelho somente poderá vencer com os prepostos dos governos, autoridades administrativas. Elas comandam os destinos.
- Jesus nos esclareceu – já que você citou a Bíblia –, que o seu reino não é deste mundo. Jamais foi visto interessado em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida.
- Aldo, note bem: Jesus sempre honrou a Verdade e o Amor, mas só dele se abeiravam leprosos e cegos, pobres e ignorantes...
E imprimindo aos olhos inquietos um fulgor estranho, Bozzo impaciente:
- Ótimo ao lembrar Jesus... Não acredito que seus princípios e lições hoje se implantam em mentes e corações. Com brandura, o que ocorre é a fuga do Evangelho. A figura do Messias, tão deturpada, deve ser imposta às autoridades. Temos que multiplicar esforços a fim de que nossa posição de superioridade seja reconhecida em tempo oportuno.
Aldo, expõe com doce veemência:
- Bozzo, Bozzo!... Os poderosos do mundo são transitórios.
- Há militares e religiosos entre eles. Muitos ligados e outros que se juntam à política administrativa, até empreendedores nas  mais diversas áreas. Vamos buscar a conversão dos homens. 
- O Mestre asseverou que o maior na comunidade será sempre aquele que se fizer o menor de todos.
Bozzo lembra o que ouviu de um seu correligionário: A gente se acercando de um grupo de notáveis – pois ninguém sabe tudo – o caminho pode se tornar plano...

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O SONHO DE BOZZO 2
Aldo com serena arrogância:
- Hoje, entre admiração e interesse motivado pelo ódio ao Sistema, além de boa dose de frustrações com o Congresso dos homens, mais que aprovação inconteste pelas qualidades pessoais, você funciona como a pior das piores alternativas.
Bozzo excitado ao extremo:
- A figura do Messias deve ser imposta à “Corte”. O povo, tal a carência no atendimento das mais básicas necessidades, há tempo que o descartou. Necessário encarar isto. Temos de multiplicar esforços para que nossa posição de superioridade seja reconhecida. Sei que é um jogo, mas só assim venceremos. Farei o possível para estabelecer acordos, sem deixar de ser quem sou, pessoa com poucas qualidades para governar...
- Tal traço de humildade é até louvável... Mas quantas mentiras e descompassos não ocorrerão? Quem é manejado acaba mudando de credo.
- Estou preparado para o que der e vier. Sei que a imprensa costuma ser um problema. Conto menos com ela e mais com as redes sociais.
Aldo obtempera:
- Jamais se engana por todo o tempo. E o Mestre tem visão abrangente para sondar e reconhecer os corações. A toga dos juízes são roupagens para a Terra... E a superficialidade dos manipuladores encobre as misérias da inteligência e dos conhecimentos históricos e evangélicos.
- Meu destino é alcançar o poder – enfatiza Bozzo – , custe o que custar. A maioria se porá ao meu lado, pelo que represento de transformação. Por hora, vale promover até escândalos.
- Muitas vezes são necessários, mas ai de quem os provoca – acrescenta Aldo. Autoritários que chamam a ditadura de movimento, aprovam a tortura e encorajam execuções extrajudiciais, em última análise, matam a democracia.  
E continua:
Líderes populistas já se utilizaram de vassoura para varrer a corrupção; roupa de gari, como se estivessem com os pés no chão; prometiam acabar com os Marajás, além de fazer correr o sangue das ilicicitudes... Promessas não cumpridas, quando eleitos, sempre uma constante até o obscurantismo dos dias atuais.
Só pensando:
Bozzo acreditava que suas ideias eram novas, ou que pelo menos resgatavam tradições do ensinamento bíblico. Pelo apoio que recebia, e dos evidentes procedimentos de desumanização, como o assassinato de representantes de desafetos – partidos que se lhe opunham, gays, negros, índios, mulheres –, mantinha seu interesse por armas, militarização e milícias.
Lembra ocorrências:
“Bozzo, ele sim”, “a caça aos veados vai ser legalizada”, gritos aqui e ali. “Suástica não”, mas símbolo budista da paz – interpretação tendenciosa de um delegado, pela escoriação a canivete na pele de desafetos.
A Bozzo, com esclarecedora firmeza: Como llhe fica a consciência quando você difama opositores, mobiliza fanáticos, intoxica quem vai votar? Você, ajoelha diante das redes sociais sabendo que a cibertecnologia polui a política. Inclusive, não há memes inocentes, elas servem a propósitos de aliciamento. O humor irônico chega a tomar o papel cômodo de quem não quer pensar de forma responsável. Com os militares no poder, o enrustido carinho pelo fálico continua. O que acontece no mundo ricocheteia aqui.
Bozzo: - Precisamos da autoridade na política, de nacionalismo pátrio, e respeitar a tradição nos costumes. Não mais baderna e progressismo. A esquerda chega a ser mais autoritária do que a direita.
Aldo - Um perigo cortejar religiosos dinheiristas para angariar  votos. A alta hierarquia, seja do credo que for, engole sapos e silencia. Refugiados e imigrantes servem de pretexto para a xenofobia.
Bozzo enuncia:
- Os inimigos estão aí: petistas, sem-terra, sem-teto, ambientalistas, ativistas, quem fica de mimimi.
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Manhã de muito sol e ainda um frio da estação passada. Na véspera, em mãos, o manifesto “POR UMA FRENTE PROGRESSISTA  DO TAMANHO DO BRASIL”. Não me lembro de tê-lo assinado ao lado de mais de 22 mil pessoas. Se posso ainda assinar, assino agora. Vibro com os nomes de pessoas que sempre admirei pela coragem de dizer o que sentem e pensam. Gente que não separa o coração das ideias. Intelectuais, artistas, escritores, políticos, ex-ministros, comerciantes, jornalistas, cineastas, advogados, empresários, economistas, educadores, músicos, filósofos, editores, compositores, curadores, ativistas, etc., etc.
Publicação em – Folha de S.Paulo, sábado, 20 de  outubro de 2018 –, como INFORME PUBLICITÁRIO PELA DEMOCRACIA. 
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Bozzo recorda seu empenho ao juntar forças com economistas, gestores empresariais, políticos e militares. Meditava na execução de seus desígnios. A madrugada o encontrou decidido na embriaguez do que pretendia. Na troca de reconhecida liderança ele contaria com jovens eleitores, políticos e seus currais, aqueles de suas fileiras de desaprovação. Unia-se a desorientados face às lições da história, fanáticos frustrados de todas as classes sociais, e os mais revoltados com o Sistema. Sentia-se apoiado como o representante oficial do país diante do mundo. Órbita artificial cuidada com raro leso de insinuações e mentiras. Praticamente aboliu os marqueteiros profissionais. Entre a maldade e a violência, o Mestre parecia demasiado humilde e generoso para vencer sozinho. Bozzo ainda se considerava, tendo às mãos autoridades e privilégios políticos, capaz de satisfazer suas justas ambições para a vitória do “olho por olho, dente por dente”. Recebeu relevantes promessas dos que viam nele trampolim para a conquista de melhor posição na cúpula do poder. E para o povo simbolizava a salvação no rito de passagem anunciado como merecida premiação. Quem não quer emprego e cargos para satisfazer interesses de sobrevivência e autorrealização? É como se o algorrítmo da verdade estivesse no desabrochar de nova alvorada.
TEMPOS DEPOIS
O sistema democrático foi ainda mais humilhado e escarnecido, conduzido à cruz da ignomínia, sob vilipêndios e flagelações.       
No seio de Bozzo ainda havia suposições a declarar. Quem antes o apoiava só queria mais poder. Os mais ricos e poderosos agiam como rentistas (acumuladores de dinheiro e bens materiais). Agora desejavam o que ele abraçara, sorrindo com sarcasmo. Bozzo reconheceu a falibilidade das promessas humanas. Ele, que tanto prometera, se via no espelho tosco da própria alma. Companheiros de fé, encontrou-os vencidos, em cada olhar a exprobração silenciosa e dolorida. Até os mais íntimos o tinham como um rebento desprezível. Atroz remorso lhe pungia a consciência, lamentando por não aceitar as advertências do sincero amigo Aldo Costamares.
Nessa hora, com a perda da democracia, o céu da cidade se cobriu de nuvens escuras e borrascosas. Bozzo peregrinou em derredor de lembranças malditas, alimentando o desejo de desertar do mundo – suprema traição aos compromissos mais sagrados da própria vida. Terrível relampejar rasgava o firmamento. A Terra da nação era agora vilipendiada pela morte do melhor regime, entre os piores – a democracia. É como se o Mestre dissesse: Ninguém pode melhorar senão por mim!
(Duas partes postadas no ipansotera.blogspot.com, 14.110 visualizações antes desta publicação. Foi também para o Facebook / 21-10-2018.)

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08/10/2018

AMEAÇA



Triste que eleitores dependam do tom e das estratégias políticas e dos marqueteiros para fazer suas escolhas. Isso tem a ver com falta de informações e conhecimentos com base real. Pode ser também agir no impulso, ou com ódio e frustração. Descaso e acomodação entram nesse caso. O que se acarreta de agravamento para a crise política atual não tem tamanho. Reveja os próprios medos e interesses pessoais. Em época de Internet (Google) pesquise ou peça ajuda. Com um simples toque aprenda sobre a ameaça fascista. Mentiras, perseguições de opositores, assassinatos, militarização até das crianças, ódio contra minorias religiosas, étnicas, ideológicas, gênero (homofobia), o machismo contra mulheres, o evangelho do “olho por olho, dente por dente” (nada cristão), xenofobia... (Alguns dos termos empregados você encontra em dicionários de bolso ou no Google.) Isto deve pingar como gota d’água na cabeça: Direitos Humanos e Liberdades Individuais são como o indispensável feijão com arroz. E para finalizar passo a palavra ao escritor Cristovão Tezza: “Em cada gesto e palavra, no primarismo intelectual, no culto da violência, na ignorância histórica, no permanente desconforto com a diferença na estupidez verbal como método, no ódio aos fatos e à imprensa livre, no desprezo sarcástico a todas as formas de representação institucional, no orgulho arrogante da barbárie e no despreparo brutal, em tudo revelam-se os sinais inconfundíveis da implosão democrática que ele representa.” Destaquei o texto do artigo “O eterno retorno”, Folha, 7 de outubro de 2018. Tremula a bandeira do endereçado: Bolsonaro e Doria. Quem os acompanha: “Vade retro, Satanás!”  


06/10/2018

LUA, ESTRELAS E FLORES

Na véspera da  eleição de 2018 vejo o Brasil passando por um dos seus mais sérios momentos. Desde o golpe de 64 que implantou a ditadura militar com suas perseguições, assassinatos e tortura estamos às portas de um novo Ai 5 (aquele decreto que desencadeou, fortalecendo os crimes). Extremos de Esquerda e Direita, além do comodismo cínico do Centro, são abomináveis. O populismo autoritário, venha de onde for, funciona como peste. Um Governo concentrador de poder é também amante do rentismo, estimulando a desigualdade entre ricos e pobres. Golpes ditatoriais produzem corrupção e ilicitudes contra os Direitos Humanos e as liberdades individuais.
Hoje, pela manhã, aceitei o convite da Maria para ir ver flores desabrochando com detalhes de linhas e cores em belos designs. Espontânea e sábia natureza. Ninguém  impondo a marcha gloriosa. Na Wikipédia leio: sobre design – idealização, criação, desenvolvimento, configuração, concepção, elaboração e especificação. As lições, hoje à mão, com a facilidade de um toque digital, deveriam ser obtidas antes de importantes decisões, como agora antes de votar. 
Minha sugestão é: clique no Google a palavra Fascismo. Ninguém precisa ser historiador ou ter formação universitária para saber o que significa fascismo na Itália e nazismo na Alemanha. Tem a ver com autoritarismo populista na Política. Dizer e desdizer, mentir e desmentir; “ser contra” pode mudar de tom mas é sempre “ser contra”. Tão simples, né? 
Gestos se fazem até mais verdadeiros do que palavras. Você dizer insultos ou palavras afrontosas, ainda acompanhadas da imagem corporal, não correspondem apenas ao jeito da pessoa. Num político ou candidato a cargos públicos (figuras de representatividade social) revelam valores existenciais, conceitos sobre o mundo e os indivíduos. Têm a ver com caráter, o mais profundo da personalidade. Incluem manifestações a se concretizar sobre pessoas, classes sociais, minorias étnicas, de gênero, dispositivos de segurança, aspectos educacionais referentes a família e a escola. Sobre como encarar a  imprensa investigativa, a justiça dos tribunais, atos de inclusão e separação, liberdade de expressão, pesquisa científica, arte e moda. 
Estar preparado para um cargo público exige abertura e conhecimentos em todas essas áreas tão vitais como a Economia e empregos com justa remuneração. Não há minorias desprezíveis e despreparadas. Cabe ao Estado e a indivíduos empreendedores e protagônicos a ingente tarefa de prover necessidades básicas de sobrevivência e autorrealização. 
Ao lado de Lua, estrelas, flores, somos responsáveis pelo design da vida nossa e comunitária.

25/08/2018